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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Rio de Janeiro, as tragédias e o "Zé do Apocalipse"

O Rio de Janeiro, as tragédias e o "Zé do Apocalipse"Postado por Pr. José do Carmo -"Zé do Egito" em 18 janeiro 2011 às 21:30
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.Sempre que ocorrem tragédias como as enchentes que se abateram sobre o Rio de Janeiro neste inicio de 2011, algumas pessoas religiosas buscam respostas "espirituais" para o acontecido. As respostas são as mais variadas e absurdas possíveis, e nelas sempre DEUS "paga o pato", pois tais explicações estapafúrdias vão desde uma maldição causada pela estátua do Cristo Redentor, até aos pecados cometidos nos dias de carnaval. Com tais argumentos segue toda uma tentativa de explicar a tragédia das enchentes como sendo fruto da ira de Deus.

Não ficarei surpreso se algum figurão do meio político ou gospel for surpreendido na TV dizendo que, o que ocorre no Rio é conseqüência da grande população de negros e afro - descendentes lá existentes, assim como o Cônsul Haitiano George Samuel Antoine tentou explicar o terremoto que praticamente destruiu o Haiti em 12 de janeiro de 2010 como sendo consequencia de certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o Cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado.

Numa quinta-feira de oração, estava em frente a igreja que pastoreio, e antes de iniciar o culto, um irmão transeunte aficionado pelo livro de apocalipse tentava de toda forma explicar para algumas ovelhas minhas o ocorrido em algumas cidades do Rio como sendo fruto do juízo de Deus.

Usando versículos bíblicos isolados, afirmava categoricamente que Deus seria o autor de tanto sofrimento gerado por perdas de bens materiais e vidas ceifadas. Que cansado de ver tanto pecado cometido, resolvera dar vazão a sua cólera destruindo os pecadores etc. e tal. E que os cristãos que morreram na tragédia, morreram por não andarem em fidelidade a Palavra de Deus.

Parado a uma distancia na qual se podia ouvir as "pregações apocalípticas" eu ouvia todo o palavrório em silêncio. Mas, quando ele falou a respeito da morte dos cristãos por não estarem andando em fidelidade com a Palavra de DEUS, entendi que deveria fazer algo. Logo me aproximei do grupo, ao perceber minha aproximação, “o profeta” se calou e seguiu seu caminho.

O polêmico irmão com o qual soube ser perda de tempo tentar argumentar possui atitudes e ares de fanatismo. Se julga um iluminado, vê o diabo e o pecado em tudo e em todos que não pensam como ele. Só a denominação dele é certa, e só será salvo quem for membro dela, e quem de lá saiu cometeu pecado de morte, por isso está condenado.

Pude notar que, em suas explicações bíblicas o individuo pode ser considerado um verdadeiro “Zé do apocalipse”, um personagem criado por Glauco, cartunista assassinado juntamente com seu filho em março de 2010 por um membro da seita do Santo Daime. O cartunista era padrinho fundador da igreja Céu de Maria, ligada a doutrina do Santo Daime.

Seu personagem o “Zé do Apocalipse”o "profeta brasileiro" acredita que o Brasil é o berço de uma nova raça, a terra do novo milênio. Julga-se o porta-voz da nova era e gosta de fazer suas pregações apocalipticas em qualquer praça pública.

Como vi que algumas pessoas pareciam dar crédito a ele, não entrei em confronto ali, mas no domingo na escola dominical fiz sala única e trouxe um estudo bíblico sobre o tema: Testemunhar a graça de Deus em meio às tragédias humanas.

Minha fé cristã baseada em minha leitura bíblica e naquilo que dela pude conhecer sobre o agir de Deus tem me ensinado que Ele não precisa de advogado, mas nos chama a sermos testemunhas dEle no mundo. Testemunhas que apontem para seu sempiterno amor e graça manifestos na pessoa de Jesus de Nazaré.

No estudo disse à comunidade que muitas vezes corremos o risco de nos tornar falsas testemunhas de Deus, quando creditamos a Ele algo que não foi por ele causado. Paulo fala sobre isto quando alguns indivíduos começam a negar a ressurreição dos mortos. “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, é vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.” (I Cor 15. 15)

Penso que, em momentos como o que vive o Rio não há espaço para especulações teológicas, filosóficas e afins, e sim para ação. Ação que envolve e alcança a todos independente da confissão de fé. Penso que em tragédias como sobre a qual estamos tratando Deus não está em silencio e parado, mas falando e ativo por meio das pessoas que atuam em favor dos que sofrem, estando Ele ao lado dos que sofrem. E a melhor maneira de se testemunhar fielmente a Deus é agindo em favor dos desabrigados, silenciando em palavras, quando não temos explicações, mas falando por meio de atos concretos de solidariedade.

Quanto às causas das tragédias, penso que Deus estabeleceu leis, e quando o ser humano quebra algumas dessas leis as conseqüências virão. Poderíamos colocar dentro dessas leis o seguinte principio: se uma pessoa construir em áreas de riscos, tais como, encostas de morros ou montanhas, quando vier grande quantidade de chuva sua morada será destruída, não por Deus, mas porque é o curso natural das coisas. O mesmo pode se aplicar em relação a construir casas as margens de rios. O rio ira encher, e naturalmente ele ira transbordar para a várzea, e o que estiver na várzea ira ser coberto pela enchente. Imagino que Deus nada tem a ver com a tragédia do Rio, ou inundações em São Paulo, tragédias que se repetem anos após anos, sempre na mesma época e quase sempre atingindo em grande escala pessoas pobres. Como se Deus fizesse acepção de pessoas e mirrasse seu dedo iracundo somente contra pessoas pobres, as quais por falta de opções e da falta de uma política pública de moradia eficaz vão habitar em áreas de riscos. Embora as enchentes e deslizamentos deste ano tenham atingido pessoas abastadas da região serrana do Rio.



Não digo que tais coisas fujam ao prévio conhecimento de DEUS, antes digo que tais coisas nada têm a ver com a ira dEle. Recuso-me a acreditar em Deus agindo iracundamente depois de ter se manifestado frágil e amorosamente em Jesus de Nazaré. Por hora não creio em tal possibilidade.

Contudo, posso começar a pensar que tragédias corriqueiras no Brasil são frutos da ira de DEUS quando aqueles que ficaram ricos de forma ilícita que moram em grandes casas, em lugares bem estruturados em moradias bem construídas em regiões fora de riscos, estiverem chorando seus mortos e a perda dos bens materiais injustamente adquiridos. Serei tentado a acreditar que é a ira de Deus se manifestando quando a Mídia mostrar Brasília tombada e os políticos corruptos mortos debaixo dos escombros. Ai sim, até pensarei em ira de Deus contra o pecado, pois não consigo conceber pecados maiores do que os cometidos por muitos políticos deste país. Os quais possuem condições de minorar o sofrimento do povo pobre e oprimido e não fazem, pois precisam mantê-los na pobreza para usá-los como trampolim que os levem ao poder. Em relação aos tais a Bíblia diz em Tiago 4.17: "Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado."

Pecados de corrupção passiva e ativa, desvios de verbas, mensalões e afins. Pecados de usura, ambição, egoísmo e ganância, cometidos por deputados e senadores ao aumentarem seus salários em 60% entrando 2011 recebendo um salário de R$ 26,7 mil, enquanto se discute um aumento miserável para o salário mínimo nacional.

É um absurdo! Pois os parlamentares são funcionários do povo, e quem deveria discutir o percentual do aumento salarial deles é o povo e não eles próprios, mas na política é assim, os empregados (políticos) ganham mais que o os patrões, o povo.

Finalmente, não acredito em Deus matando pessoas no Rio ou em qualquer outra parte do mundo, pois creio que desde a encarnação do Verbo na Pessoa de Jesus de Nazaré, graças ao sacrifício por ele amorosa e voluntariamente oferecido na cruz do calvário, a ira de Deus esta contida. E durante o tempo que chamamos tempo da graça, no qual a Igreja participa da missão de Deus em salvar o mundo por meio da pregação do Evangelho Deus não dá vazão a sua ira, destruindo pessoas, cidades, ou países tais como o Haiti.

Creio que tudo de ruim que acontece e acontecerá até a segunda vinda de Cristo tem muito de responsabilidade ou irresponsabilidade humana, ou simplesmente são conseqüências de tragédias naturais, frutos do descuido e desrespeito do homem para com as leis da natureza.

No mais, minha leitura bíblica me diz que, tragédias acontecem e se abatem sobre todos indistintamente independente do credo ou condições sociais. “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.” (Ec 9:2). [Vide: Ec 7:15, 8:14; Jó 21:17] Diante delas devemos agir como os discípulos, os quais não especularam se a grande fome prevista por Ágabo era conseqüência da ira divina, antes resolveram agir em favor dos cristãos da Judéia igualmente atingidos. (At 11. 29). A Igreja de Atos entendeu que no mundo tanto cristãos como não cristãos estão sujeitos a aflições. Paulo entendeu e ensinou que há momento para tudo, e para nós Igreja Cristã atual, a tragédia do Rio traz o momento de chorar com os que choram (Rm 12.15). É certo que o momento do juízo de DEUS ainda virá, um dia chegará o tempo estipulado por Deus, quando Ele julgará o mundo com justiça por meio de seu Cristo, (At 17.30-31). Em tal tempo o juízo será sem misericórdia para aqueles que não usaram de misericórdia, pois a misericórdia triunfara do juízo. (Tg 2.13)

Até que tal dia se manifeste, vivamos sóbria e equilibradamente o hoje, atuando como testemunhas fieis do amor e GRAÇA de Deus revelados em Jesus de Nazaré. Em tempos de dores, perdas, mortes e desesperanças causadas por tragédias tais como as que se abateram sobre a região serrana do Rio de Janeiro, ainda que sejam tais calamidades "sinais dos tempos", frutos da revolta da criação, a qual geme como que em dores de parto, esperando a manifestação gloriosa dos filhos de Deus, (Romanos 8:19-22 ) em oposição aos discursos dos "Zés do Apocalipse", "profetas do deus iracundo", o Deus de amor e misericórdia que se revelou em Jesus de Nazaré nos levanta como arautos da esperança, enviando-nos como "Zés das Consolações". Sim, Ele nos instituiu não como advogados dEle, mas como testemunhas fiéis de seu amor e presença ativa em meio aos que sofrem, levando consolo aos que sofrem diante das perdas de bens e de seus entes queridos. Consolar com aquilo que nos faz ter esperanças, e o que nos traz esperanças é que Cristo verdadeiramente ressuscitou dentre os mortos, fato que não torna vã a nossa fé, amor e esperança, virtudes que promovem a oração e ação cristã.



Em Cristo, oremos e laboremos em favor do povo atingido pelas enchentes.



Pr. José do Carmo da Silva – O Zé do Egito

Igreja Metodista em Fátima do Sul - MS

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